11 junho 2010

Lovers Rock


Nos idos da década de 70, uma nova cena começava a se formar na Inglaterra. Conduzida por descendentes de jamaicanos em Londres, o lovers rock internacionalizou o som caribenho e buscou influência no rocksteady, ritmo que sucedeu o ska e moldou o reggae. Foi, também, um importante meio de expressão destes imigrantes que não se encaixavam no que vinha sendo produzido musicalmente na terra da rainha. Uma das coisas mais interessantes da cena, era a presença feminina em maior escala entre os seus intérpretes, além do movimento ter partido inicialmente das soundsystem londrinas. A batida lenta, os vocais suaves e as letras românticas eram as principais características do ritmo que, até hoje, possui uma cena sólida e organizada.

Artistas como Dandy Livingstone, Desmond Dekker, Alton Ellis e Laurel Aitken, antes estourados nas charts britânicas, perdiam espaço para a chatice do progressivo e do glam rock. Ainda assim, a música jamaicana conservava sua fanbase, mesmo orfãos e insatisfeitos com o que vinha sendo produzido pela ex colônia. Isto, sem falar da vasta população caribenha residente nos bairros periféricos, principalmente no sul londrino. Como se entrosar num cenário como esse? Com a venda de discos diminuindo e a produção caindo para um lado que não descia nem para os ingleses, nem para os jamaicanos, as festas de rua se tornaram o principal divertimento e um meio de vida.

Abastecidos pelas soundsystem Chicken Hi-Fi, Success Sound e Soferno B-que também se tornaria label-, o velho reggae, rocksteady, ska e o soul voltavam a ter seu espaço e faziam enorme sucesso. Com este panorama, era inevitável o surgimento de artistas produzindo material próprio. Inspirados pelas letras românticas e arranjadas do soul da Filadélfia e Chicago e as belas melodias do rocksteady, o lovers rock aparecia. Aparecia naquelas, até determinado momento, esse novo ritmo não tinha este nome. A nomenclatura surgiria pouco tempo depois, graças ao producer Dennis Harris, peça importantíssima na cena e criador do selo Lovers Rock. Graças a ele, várias estrelas de lovers começavam a surgir: o trio Brown Sugar-com Carol Wheeler do Soul II Soul-, Carrol Thompson e a belíssima Louisa Mark, que chegou inclusive a gravar um single pela Trojan, já na década de 80.

Daí para frente, o lovers rock começou a ganhar seu espaço. Sabendo deste público, alguns artistas jamaicanos que na época haviam seguido para o roots reggae, perceberam no lovers um outro público que merecia atenção. De Pat Kelly e Alton Ellis, a Gregory Isaacs e Sugar Minott, a lista de intérpretes que começavam a gravar o ritmo cresceu. O mais interessante disso é que, na Jamaica, a novidade nunca pegou de fato. Não existem razões concretas a respeito, mas talvez a herança maldita do termo rock do parente rocksteady tenha ajudado a não popularização. O rock sempre foi um ritmo que os jamaicanos renegaram, dando sempre preferência ao soul. Alguns até hoje afirmam que o rocksteady não estourou como o ska e o reggae graças a nomenclatura que recebeu. Boato ou não, não deixa de ser curioso.

Com o início da década de 80, novos artistas surgiam e colocavam de uma vez por todas, o lovers como cena underground sólida na Inglaterra. Um dos baluartes na divulgação foi um então jovem Mad Professor, com seu selo Ariwa. No futuro se tornaria um dos maiores nomes do dub. Seus trabalhos com a compatriota Deborahe Glasgow, lançados quando a cantora ainda era uma menina-apenas 14 anos-, são verdadeiras gemas. “Falling in love” é soulful ao extremo, e talvez a track mais marcante do seu período com Professor. Janet Kay-2ª nas charts britânicas com “Silly Games” em 79-, Paula e a lindíssima Marie Pierre com sua inesquecível “Choose Me”, fazem parte do extenso hall de belas intérpretes de lovers, que também reservava espaço, mesmo que pequeno comparado as mulheres, a caras como Winston Reedy e Peter Hunnigale.

O lovers rock continua forte até hoje. É claro, não tem a mesma força que tinha há vinte anos, mas continua como uma das cenas mais interessantes para se conhecer e fazer parte. Segue com sua base focada nas soundsytem, o que talvez tenha ajudado a garantir o sucesso. Seu legado também é enorme, foi um dos responsáveis pelo surgimento do dubstep e grime. Sem o lovers, muitos descendentes de caribenhos envolvidos nestes novos sons não teriam a inspiração e a confiança que, é sim, possível continuar a belíssima história que seus avós e bisavós começaram há 40, 50 anos atrás.

Fonte: http://www.coletivoaction.com/?p=1516

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